Para entender como a pesca e o turismo interferem na conservação do boto-cinza – espécie vulnerável à extinção – o Projeto Golfinho Rotador está realizando entrevistas na Praia de Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte. O trabalho é feito em colaboração com a ONG Associação Mamíferos Aquáticos de Pipa (AMAPipa), que está aplicando questionários.
Levantamento semelhante foi realizado em Fernando de Noronha, sede do Projeto Golfinho rotador. Assim como na ilha, o turismo de observação, ou whale watching, é uma das atrações turísticas da Praia de Pipa. Com uma diferença: enquanto em Noronha o foco é o golfinho-rotador, no continente é o boto-cinza. A Praia de Pipa é o local onde ocorre a maioria das interações do turismo de observação de golfinhos no litoral do Nordeste do Brasil.
Entre os dados a serem apurados em relação ao turismo de observação estão o número de visitantes, tempo de permanência e perfil deles, além das opções de atividades turísticas e quanto os turistas costumam gastar no local. Para esse levantamento, estão previstas 100 entrevistas.
Especificamente em relação à observação dos golfinhos, a pesquisa prevê o levantamento do número de saídas e de pessoas envolvidas nos passeios de barco e também nas observações de botos-cinzas feitas em terra.
A bióloga Lume Garcia, pesquisadora do Projeto Golfinho Rotador responsável pelo estudo, explica que o objetivo é mostrar quanto o turismo de observação gera de benefício e recursos financeiros para a comunidade da Praia de Pipa. “Esperamos, assim, evidenciar o ganho com a conservação do hábito do boto-cinza frequentar Pipa.”
As características socioeconômicas, as expectativas e o objetivo real da viagem do turista também serão coletados nos questionários, pois são consideradas pelo Projeto Golfinho Rotador fundamentais no auxílio à interpretação dos resultados de valoração do whale watching.
Com os resultados deste objetivo específico pretende-se atingir um maior grau de conhecimento sobre as interações dos golfinhos com seres humanos nestas localidades. Ao final, a equipe pretende elaborar uma “Proposta de boas práticas para o turismo de observação de golfinhos em Pipa”, visando a minimização dos impactos detectados nas áreas de estudo.
PESCA
Em relação ao estudo das interações dos botos-cinza com a pesca em Tibau do Sul, estão sendo analisados dados sobre encalhes e mortandade desses mamíferos aquáticos. O levantamento é feito em relatórios de Projetos de Monitoramento de Praias (PMP´s), artigos científicos e trabalhos acadêmicos como monografias, dissertações e teses.
Serão realizadas entrevistas para avaliar a percepção dos pescadores quanto à interação da pesca com os botos-cinza, adotando-se uma amostra aleatória de 25 profissionais.
“As entrevistas seguem um roteiro semi-estruturado com questões abertas e fechadas, abordando aspectos sobre perfil socioeconômico dos pescadores, espécies alvo da pesca, apetrechos de pesca, espécies de golfinhos observadas, formas de interação, espécies de golfinhos e frequência de capturas acidentais desses animais”, explica Lume Garcia.
Os resultados do estudo das interações dos botos com a pesca na Praia de Pipa serão apresentados à comunidade científica, ao ICMBio, ao IBAMA e à Secretaria da Pesca por meio de um texto científico, em busca de estimular a implementação de medidas que diminuam a captura acidental desses cetáceos.
Ainda relacionado ao turismo, está sendo aplicado outro questionário em Tibau do Sul, para analisar o grau de conhecimento e conscientização dos turistas de “sol e praia” sobre a conservação marinha.
O questionário aborda questões sobre perfil socioeconômico, motivo da viagem, noções de importância ecológica do local, percepção sobre o grau de conservação da localidade visitada, conhecimento sobre o ecossistema visitado, resíduos sólidos, poluição, capacidade de carga social, impactos do turismo e se o entrevistado tem efetivo engajamento em alguma organização socioambiental.
As atividades de pesquisa na região Nordeste, assim como ações na área de educação ambiental, envolvimento comunitário, sustentabilidade e monitoramento de golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.