Dividindo espaço e alimento com animais nativos de Fernando de Noronha desde a década de 60, o teju agora pode não ser mais o único lagarto introduzido na ilha que passou a integrar a lista de espécies invasoras. Enquanto faziam o monitoramento de golfinhos, biólogos da equipe do Projeto Golfinho Rotador registraram uma lagartixa até então restrita ao continente. A descoberta foi apresentada no 23º Congresso Brasileiro de Zoologia, no mês de março, em Águas de Lindóia (SP).
O lagarto estava no Mirante da Baía dos Golfinhos, dentro da área do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Pertence ao gênero Tropidurus. Na classificação dos seres vivos, o nome de cada animal tem pelo menos duas palavras. A primeira é relativa ao gênero e a segunda, à espécie. Um gênero pode ter várias espécies. No caso do Tropidurus, há pelo menos 30, todos na América do Sul. Os biólogos do Projeto Golfinho Rotador ainda não sabem à qual espécie pertence o novo lagarto de Fernando de Noronha.
Os lagartos do gênero Tropidurus são encontrados em áreas abertas, verdes, em rochas e construções civis. Alimentam-se de artrópodes, grupo integrado, entre outros animais, por insetos e aracnídeos. São ativos no período mais quente do dia.
O registro do lagarto ocorreu no dia 11 de janeiro de 2019. A bióloga Lisandra Maria de Lima Silva Bezerra fez fotos e vídeos. “Não houve captura, apenas observação do comportamento, que ocorreu entre 14h34 e 16h”, detalha Lisandra.
O lagarto alternou seu comportamento entre se expor ao sol e se deslocar em zig-zag. O Tropidurus dividia espaço com mabuias, lagartixa endêmica de Fernando de Noronha, mas sem manterem contato físico.
Este é o único registro de Tropidurus em FN até o presente momento, no entanto, sabe-se que a introdução deste lagarto no Arquipélago pode trazer grandes impactos sobre a fauna local, principalmente a mabuia, com a qual pode competir por alimento e habitat.
“O registro de mais um animal exótico em Fernando de Noronha é de extrema preocupação e reforça a necessidade de fiscalização nos pontos de chegada de pessoas e mercadorias à ilha, como aeroporto e navios cargueiros que descarregam no Porto”, alerta Lisandra.
MABUIA
A mabuia, lagarto encontrado apenas em Fernando de Noronha, é cientificamente denominada Trachylepis atlantica e evoluiu na ilha sem a presença de predadores naturais, como serpentes ou aves de rapina. Apesar de abundante, a espécie vem sofrendo uma predação cada vez maior nos últimos anos.
Animais introduzidos pelo ser humano, como os ratos, gatos domésticos e tejus, se alimentam do pequeno réptil. O simpático lagarto tem comportamento curioso, aproxima-se das pessoas e é frequentemente encontrado dentro de bolsas e sacolas de turistas. Ocupa quase todos os nichos, morando em áreas com pedras, areia, árvores e construções. São animais onívoros, se alimentam de tudo que conseguem manipular.
TEJU
Maior lagarto das Américas, o teju foi introduzido na década de 60 para controlar a população de ratos e de sapos. De hábitos diurnos, no entanto, passou a se alimentar das mabuias, além de aves e caranguejos. Assim, mesmo sendo nativo do Brasil, tornou-se uma espécie invasora em Noronha.
Sendo onívoro e tendo uma população estimada em 2004 em 8 mil indivíduos, come grande quantidade de frutas, espalhando pela ilha sementes de frutíferas exóticas (que não são originárias de Noronha).
A elaboração de trabalhos científicos como o registro do novo lagarto em Noronha, bem como atividades na área de educação ambiental, envolvimento comunitário e sustentabilidade realizados desde 1990 pelo Projeto Golfinho Rotador, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.