A afirmação é do doutor em Oceanografia Mauro Maida, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O professor abriu a programação da Quinta da Boa Prosa do ICMBio no dia 21 de julho, com uma palestra no Centro de Visitantes do TAMAR em Fernando de Noronha sobre “Unidades de Conservação e Produção Pesqueira”, com dados alarmantes sobre os danos da pesca predatória aos oceanos e os benefícios das áreas protegidas para a pesca.
“Ninguém está produzindo peixe. Está extraindo peixe e com subsídios do Governo”, disse Mauro sobre a atual situação da atividade pesqueira no Brasil. De acordo com o professor, diferentemente da produção bovina, por exemplo, existe um investimento na fase de produção, mas, por outro lado, na atividade pesqueira inexiste essa etapa. “Ninguém investe na fase de produção. Se não investir na pré-captura como terá produção?”
Para explicar ainda de forma mais clara para o público, Mauro usou como exemplo o ciclo de vida do peixe conhecido como Dentão. Ele mostrou a importância da garantia de todas as fases do ciclo (nascimento, crescimento e reprodução). Quando uma das etapas sofre algum tipo de alteração, o ciclo não se completa e temos como uma das consequências a diminuição do número de peixes desta espécie. Que é negativo tanto para o ecossistema quanto para o comércio pesqueiro.
Outro dado preocupante apresentado por Mauro foi sobre a área total de preservação do oceano, que corresponde apenas a 0,05%. Os outros 99,95% são completamente desprotegidos e desassistidos. É literalmente um pontinho no oceano. “É uma burrice crônica que isso aconteça. É inaceitável a permissividade em relação ao uso do mar”, afirmou.
Um conceito apresentado pelo oceanógrafo durante a palestra “Áreas Marinhas Protegidas e Produção Pesqueira”, foi o de Floresta Vazia. Que ocorre quando várias espécies de animais são retiradas de maneira desordenada do seu habitat natural deixando assim um ecossistema sem animais. Mas, não é possível perceber esses danos olhando apenas de fora, por imagem aérea ou de satélite, por exemplo. O mesmo acontece com os corais, que funcionam como florestas marinhas. De fora, é possível ver a existência dos corais, mas por meio do mergulho é que se vê a realidade: ausência de várias espécies de peixes e até a morte dos corais.
Em Tamandaré (PE), a equipe de Mauro conseguiu recuperar áreas de recifes criando uma Zona de Exclusão de Pesca na Costa dos Corais, uma Área de Proteção Ambiental do ICMBio. “É um investimento muito barato. Nós damos espaço para que a natureza tenha condições de fechar o ciclo das espécies. Isso na verdade deveria ser uma política nacional, com a criação das áreas marinhas de proteção integral e áreas de exclusão de pesca”, finalizou.
Mauro está em Noronha para realizar o projeto “Recifes Profundos do Arquipélago de Fernando de Noronha – Mapeamento, Conectividade e Proteção”, patrocinado pela “Fundação O Boticário de Proteção À Natureza”. A coordenadora do projeto, oceanógrafa e pesquisadora Mirella Costa, explicou que o objetivo da atividade é “entender quais são os habitas da ilha, a conectividade entre os ambientes profundos e rasos para criar subsídios para a proteção”. O estudo tem previsão para finalizar em 2018.
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Assessoria de Comunicação do Projeto Golfinho Rotador
Grande Mauro!!!