Considerado um dos mais importantes programas ambientais do Brasil, o Projeto Golfinho Rotador não existiria sem a dedicação das pessoas nele envolvidas. São pesquisadores de diversas áreas, atuando na defesa dos golfinhos e da comunidade de Fernando de Noronha, gerando conhecimento científico e colaborando com a qualidade de vida dos moradores do arquipélago. Fundado em agosto de 1990, o projeto nasceu devido à alta frequência de golfinhos-rotadores em Noronha, da falta de conhecimento sobre esses cetáceos e do alto risco de um crescimento desordenado do turismo na região. E tudo começou em 1990, de um sonho do oceanógrafo José Martins, na época voluntário do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. E o próprio José Martins é um dos personagens que fazem parte da bela história do Projeto Golfinho Rotador.
Assim como Martins, um outro personagem tem forte ligação com a conservação ambiental e ecológica de Fernando de Noronha. Trata-se do então diretor do Parque Nacional, Heleno Armando da Silva. Nascido em Noronha, este engenheiro de Pesca tinha destacada militância política em prol dos interesses dos ilhéus. Em conversas com vários pesquisadores, ele percebeu que a conservação ambiental era o caminho para garantir melhor qualidade de vida aos moradores da ilha. As idéias e o trabalho de Heleno sempre foram tidos como muito semelhantes à atuação do ativista Chico Mendes na Amazônia. Por isso, ele chegou a ser chamado de “Chico Mendes de Noronha”. Graças ao empenho de Heleno na luta pela preservação de Noronha e na defesa dos golfinhos, em 1990 foi concedida a primeira licença de pesquisa para o Projeto Golfinho Rotador.
Alcance internacional
Em novembro daquele ano, outro personagem passou a fazer parte da trajetória do projeto, com a chegada do biólogo Flávio Lima à equipe. Flávio trouxe sua tranquilidade ao trabalho e começou a dar um aspecto de equipe ao grupo, do qual ele participa até hoje, agora como presidente do Conselho Deliberativo do Centro Golfinho Rotador. O programa cresceu, conquistou reconhecimento e rompeu fronteiras, atraindo a atenção de especialistas de várias áreas e de todo o mundo. Assim, entrou em cena o primeiro personagem internacional do projeto: o fotógrafo de mamíferos aquáticos, Flip Nicklin, da revista National Geographic. Em 1991, Flip desembarcou em Noronha, com a missão de fotografar esses fascinantes animais para uma reportagem intitulada “Dolphins in Crisis” (Golfinhos em Crise). A chance de conhecer e trabalhar com um dos maiores fotógrafos de Natureza do mundo foi fundamental para que o oceanógrafo José Martins pudesse desenvolver também seu talento fotográfico, que viria a ser fundamental para o Projeto Golfinho Rotador, na produção de relatórios, livros e vídeos.
Uma celebridade entre os golfinhos
O segundo personagem estrangeiro a fazer parte do projeto foi o célebre mergulhador francês Jacques Mayol, um amante dos golfinhos e cuja vida foi contada no filme “Imensidão Azul”. Mayol chegou a Noronha em 1991, com o desejo de executar o seu projeto “Homus delphinus”, que, entre outras atividades, previa o nascimento de seres humanos no mar, entre os golfinhos. O projeto, no entanto, encontrou diversas barreiras locais e nacionais para sua concretização, mas promoveu várias viagens do mergulhador francês a Noronha, gerando uma forte amizade entre Mayol, os rotadores de Noronha e José Martins. Mayol chegou a doar vários equipamentos ao Projeto Golfinho Rotador e fez até contribuições em dinheiro, principalmente nas épocas de crise financeira, permitindo, assim, a continuidade dos trabalhos.
No primeiro semestre de 1997, momento mais delicado, tanto na questão administrativa como financeira e burocrática do Projeto Golfinho Rotador, Mayol mais uma vez entrou em cena, quando soube do evento e tomou ciência que os pesquisadores envolvidos haviam decidido acabar com o projeto. O biólogo Flávio Lima já não morava mais em Fernando de Noronha. José Martins, por sua vez, estava prestes a se mudar para São Paulo, onde iria fazer seu doutorado. Foi quando Jaques Mayol enviou 100 mil dólares para Martins, então coordenador do Projeto Golfinho Rotador, e lhe disse uma frase que o fez permanecer em Noronha: “Neste momento, mais importante do que conservar os golfinhos em Noronha é conservar o José Martins em Noronha”. O mergulhador francês sabia que, sem os pesquisadores atuando na ilha, o projeto estaria fadado ao fim. Além de tudo isso, Mayol também ensinou José Martins a técnica do mergulho passivo, que possibilitou uma aproximação muito maior dos golfinhos, não só pela tranquilidade com que a submersão se desenvolve, mas também pela profundidade e o tempo que essa técnica permitia ao mergulhador alcançar.
Atuação social
Totalmente engajados e atentos às necessidades da comunidade local, os pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador decidiram ampliar a área de atuação do programa. Assim, no final de 1990, Heleno Armando, a jornalista Maria Amália Krause e José Martins criaram a ONG Instituto Pró-Noronha, cuja tarefa seria executar os planos do Projeto Golfinho Rotador e realizar atividades de educação ambiental para adolescentes e jovens da ilha. Nesse programa, houve a participação de líderes comunitários locais e de personalidades nacionais, como o publicitário Ricardo Guimarães, que chamou a atenção para a visão holística, necessária para entender melhor o mundo dos golfinhos.
Na área do ecoturismo, mais um personagem internacional entraria em cena. E mais um francês: o empresário Leon Coppi. Ele e o também empresário João Cândido doaram ao projeto o barco Stenella, que tinha o casco transparente, permitindo a quem estivesse a bordo visualizar a exuberante vida marinha de Fernando de Noronha. O Stenella foi fundamental para ações de ecoturismo que ajudaram na arrecadação de recursos financeiros para o Projeto Golfinho Rotador. Assim, nasceu também o programa de filiação de sócios colaboradores, instrumento utilizado para conduzir os visitantes a observar golfinhos e aves, sob a orientação dos pesquisadores do projeto. Turistas, pesquisadores, ambientalistas, moradores de Noronha. Hoje, todos são personagens da admirável trajetória do Projeto Golfinho Rotador.
Parabéns a todos os envolvidos. Vocês são pesquisadores com capacidade para mudar o mundo para melhor. Não desistam nunca da luta pela conservação marinha e proteção dos Stenella longirostris.