O branqueamento de corais, fenômeno mundial causado pelo aumento da temperatura da água do mar, atingiu a Baía dos Golfinhos, área de Fernando de Noronha utilizada pelos golfinhos-rotadores para descanso e reprodução. As colônias de coral-de-fogo, que antes chamavam atenção pela cor alaranjada, e também a espécie Montastraea cavernosa, com seus cabeços, estão com manchas de coloração branca.
A Baía dos Golfinhos está inserida no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar-FN), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Mesmo com proteção legal, a área não está imune às mudanças climáticas, que tem alcance global.
Os corais começaram a branquear no início do ano. A alteração tem sido percebida não apenas pelos pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador, mas também por condutores de visitantes locais. Moradores da ilha relataram ter visto o branqueamento do alto, ao chegarem de avião na ilha.
O coordenador geral do Projeto Golfinho Rotador, José Martins, explica que o aumento da temperatura da água do mar tem se agravado nos últimos 50 anos. O aquecimento global, lembra o oceanógrafo, é causado pelo aumento da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, a exemplo do CO2, resultante de ações humanas como as queimadas, desmatamento, poluição dos carros e das fábricas.
De acordo com José Martins, o impacto do aquecimento da água do mar se agravou nos últimos meses principalmente pelo fenômeno “El Niño”, mas apenas recentemente se verificou em Noronha. “Isso se deve à boa qualidade dos corais em Fernando de Noronha, em função da proteção pelo ICMBio Noronha.” Mas as chuvas intensas de abril provocaram o escoamento de esgoto e de sedimentos para o mar, diminuindo a saúde dos corais do Mar de Dentro.
O aumento da temperatura e o carreamento de esgoto e sedimentos provocam a morte das algas chamadas zooxantelas, que vivem dentro dos corais e que, além de alimentá-los, dão o colorido aos corais. “Com a morte dessas algas os corais ficam brancos. Não quer dizer que os corais também morreram, mas é o primeiro passo para que isso ocorra”, detalha.
José Martins espera que o branqueamento dos corais comece a reduzir com o resfriamento sazonal das águas do mar de Noronha, que ocorre entre junho e setembro. “Com a temperatura da água diminuindo, é possível que as zooxantelas parem de morrer. E então temos que esperar que elas voltem a crescer. Para depois o coral ficar saudável e pegar cor de novo.”
Mas, se a temperatura demorar a baixar, os corais podem morrer mesmo. “Quando isso ocorre, por cima do coral costuma crescer uma alga parda, o sargaço. O Projeto Golfinho Rotador tem observado que o sargaço já está cobrindo os corais e impedindo a recuperação. E aí demora dois, três, quatro anos, às vezes até mais. O último branqueamento demorou cinco anos pra ter a cobertura dos corais como era antes em Fernando de Noronha.”
Há ações simples que qualquer cidadão pode fazer para preservar os corais, como não pescar nessas áreas, não pisotear e não lançar produtos químicos. “Além disso, todos podem colaborar diminuindo sua pegada ecológica, ou seja, economizando água e luz.”
Os registros do branqueamento de corais em Fernando de Noronha assim como pesquisa, monitoramento de golfinhos-rotadores e atividades na área de envolvimento comunitário e educação ambiental realizados desde 1990 pelo Projeto Golfinho Rotador têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal. A ONG Centro Golfinho Rotador é responsável pela execução do projeto, que tem coordenação do ICMBio Noronha.