A observação de golfinhos-rotadores durante passeios de barco em Fernando de Noronha envolve três vezes mais turistas que a realizada a partir da ilha. É o que mostra levantamento do Projeto Golfinho Rotador apresentado no IX Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e Inclusão Social (Sapis), em dezembro, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Porém, ver esses cetáceos a partir dos mirantes proporciona maior componente informativo e educacional, uma vez que o Projeto Golfinho Rotador mantém diariamente equipes de monitoramento da espécie em dois pontos fixos: no Mirante dos Golfinhos e no Forte de Nossa Senhora dos Remédios.
O trabalho científico apresentado teve como objetivo descrever o turismo de observação de fauna nas Unidades de Conservação de Fernando de Noronha, bem como destacar a importância dessa modalidade de turismo como ferramenta de gestão em prol da conservação da biodiversidade e da geração de renda para a população local.
Nos dois pontos fixos de observação de golfinhos na ilha são disponibilizados binóculos aos visitantes, há distribuição de folders e, como os pesquisadores do Projeto Golfinho Rotador sempre estão em dupla, há possibilidade de um deles conversar com os visitantes sobre a biologia e comportamento da espécie.
De 1990 a 2018, o Projeto Golfinho Rotador orientou a observação de golfinhos a 268.027 turistas no Mirante dos Golfinhos. Desses, 34% visitaram o local entre 5h30 e 8h, 48% entre 8h e 12h e 17% entre 12h e 18h.
E não é só golfinhos que se vê nesses locais. A trilha do Mirante dos Golfinhos ao Mirante dos Porcos possibilita a avistagem de inúmeros ninhais de mumbebo-de-pé-vermelho (Sula sula), viuvinha-preta (Anous minutus) e noivinha (Gygis alba). E os visitantes podem observam comportamentos peculiares a essas aves durante o período reprodutivo.
DE BARCO
Em cerca de 70% dos passeios de barco em Fernando de Noronha os turistas avistam os golfinhos-rotadores (Stenella longirostris). Isso não significa, no entanto, que esses animais, além de simpáticos, sejam também exibidos. De acordo com pesquisas, os que nadam próximos à proa da embarcação são machos adultos que querem, na verdade, desviar a atenção dos barcos.
Enquanto alguns rotadores se revezam na função de guarda, o restante do grupo pode ficar sossegado nas enseadas da ilha, utilizada pela espécie durante o dia como local para desempenhar seus comportamentos vitais como descanso, reprodução, cuidado parental e amamentação, depois de buscar longe da ilha, à noite, seu alimento – peixes, lulas e camarões.
Entre 16 de janeiro de 2018 e 15 de janeiro de 2019, foram registradas 2.747 passagens de barcos de turismo em frente à Baía dos Golfinhos, sendo, em média, 13 passagens por dia. Houve acompanhamento dos golfinhos aos barcos em apenas 48 das passagens (1,75%).
Nesse mesmo período, na Baía de Santo Antônio e Entre Ilhas foram observados 642 agrupamentos de rotadores e 4.319 interações de embarcações de turismo com estes agrupamentos. O tempo médio de interação foi de 4 minutos e o acompanhamento por golfinhos foi observado em 78,8% das interações.
No passeio de barco nas ilhas secundárias também se pode observar ninhais de aves marinhas. De trinta-réis (Sterna fuscata) na Ilha do Cuscuz, de fragata (Fregata magnificens) na Ilha Sela Gineta, de mumbebo-real (Sula dactylatra) na Ilha Rata e de mumbebo-preto (Sula leucogaster), mumbebo-de-pé-vermelho (Sula sula) e viuvinha-preta (Anous minutus) na Ilha do Meio. No final do passeio de barco da tarde, é comum encontrar mumbebos-pretos e as fragatas sobrevoando os barcos de pesca, quando se observa as fragatas roubando peixes dos mumbebos.
A elaboração de trabalhos científicos como os que descrevem as possibilidades de observação dos golfinhos e da avifauna, bem como o monitoramento da espécies e atividades nas áreas de educação ambiental, envolvimento comunitário e sustentabilidade realizadas desde 1990 pelo Projeto Golfinho Rotador, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.