Os golfinhos-rotadores (Stenella longirostris) são cosmopolitas, denominação biológica para seres vivos de ampla distribuição ao redor do globo. Evidências científicas, no entanto, mostram que mesmo pertencendo à mesma espécie encontrada em todos os oceanos, os rotadores de Noronha são geneticamente diferenciados de outras populações de rotadores do mundo. É o que indica o estudo publicado este mês na revista científica PLOS ONE, com participação da equipe do Projeto Golfinho Rotador.
O artigo científico indica que os golfinhos-rotadores de Noronha formam sociedades com forte fidelidade à ilha, sendo essa característica mediada pelas fêmeas. Isso porque os pesquisadores analisaram também o DNA mitocondrial, aquele passado da mãe para a prole.
Intitulado “Baixa diversidade do DNA mitocondrial em uma população altamente diferenciada de golfinhos-rotadores (Stenella longirostris) do arquipélago de Fernando de Noronha, Brasil” (em uma tradução livre do inglês), o paper tem como principal autora Drienne Messa Faria, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Também assinam a publicação, entre outros estudiosos, Ana Paula Cazerta Farro, da mesma instituição, e o oceanógrafo José Martins da Silva, do ICMBio-Noronha, responsáveis pela coleta do material biológico, feita em parceria com o Projeto Golfinho Rotador.
Um total de 162 amostras de pele foi coletado de golfinhos-rotadores de Noronha pelo método de raspagem de pele em quatro anos diferentes: 2004, 2006, 2009 e 2012.
Por não causar estresse aos golfinhos, o método de raspagem de pele para aquisição de material biológico, ao contrário de técnicas que perfuram o corpo do animal vivo, é considerado não invasivo. São utilizadas esponjas compostas de fibra sintética e material abrasivo fixadas a um mastro de madeira (amostrador) de 1,30 metro de comprimento. Um dos pesquisadores fica de bruços na proa de um pequeno barco com o amostrador na mão, e, com a aproximação do golfinho, esfrega a esponja nas costas ou flanco do animal.
Imediatamente após a coleta a amostra de pele é removida do amostrador e armazenada em um microtubo contendo álcool a 70%. As amostras foram enviadas e armazenadas a -20°C no Laboratório de Genética e Conservação Animal da Universidade Federal do Espırito Santo (UFES).
A equipe avaliou geneticamente os rotadores de Noronha a partir do DNA mitocondrial e do DNA nuclear e comparou o DNA mitocondrial dos golfinhos de Noronha ao de 893 indivíduos de 14 localidades em todo o mundo.
RESULTADOS
O DNA mitocondrial revelou baixa diversidade, alta diferenciação e alto isolamento dos golfinhos de Noronha em relação a outras populações do mundo. Verificou-se que dois haplótipos (sequências diferentes de parte do genoma) comuns nos golfinhos do Arquipélago de Fernando de Noronha estão ausentes em todas as outras populações. A presença desses dois haplótipos, distintos e divergentes entre si, sugere a colonização desse arquipélago por pelo menos duas linhagens maternas. Níveis moderados de diversidade foram detectados pelo DNA nuclear. “Esses achados enfatizam a vulnerabilidade dos golfinhos-rotadores aos processos genéticos e destacam a importância do desenvolvimento de programas de conservação para essa população de Noronha”, afirmam os pesquisadores.
A partir da análise de 162 indivíduos foi identificado o sexo de 137 indivíduos (84 machos e 53 fêmeas) de Noronha. Os golfinhos-rotadores de Noronha apresentaram a segunda menor diversidade de nucleotídeos (unidades dos ácidos nucleicos – DNA e RNA) em relação a outras populações em todo o mundo.
O estudo apresenta uma das análises mais completas da diversidade de golfinhos-rotadores em termos de tamanho amostral (893 indivíduos) e cobertura filogeográfica (15 populações), cruzando dados de três bacias oceânicas.
“Compreender o grau de variabilidade genética dos golfinhos-rotadores, bem como os aspectos espaciais e temporais de sua estrutura populacional, é necessário para a implementação de estratégias adequadas de conservação e manejo”, justificam os pesquisadores.
A indústria do turismo de observação de golfinhos-rotadores no Arquipélago de Fernando de Noronha é uma atividade crescente e que pode estar impactando a dinâmica dessa população.
Normalmente, os golfinhos-rotadores usam as águas calmas do arquipélago durante o dia para descansar, brincar, cuidar de seus filhotes e se refugiar de tubarões. Durante a noite se deslocam para alto mar com objetivo de se alimentarem.
As atividades de pesquisa, assim como ações na área de educação ambiental, envolvimento comunitário, sustentabilidade e monitoramento de golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Acesse o artigo: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0230660