Estudos realizados por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em parceria com o Centro Golfinho Rotador, chegaram a uma conclusão preocupante. A partir de amostras do DNA de golfinhos-rotadores em Fernando de Noronha, os especialistas identificaram uma redução na diversidade genética dos animais que vivem no arquipélago pernambucano. Para a Dra. Ana Paula Farro, professora da UFES, esse fato representa um sério risco para a população de golfinho-rotador de Noronha e reforça a necessidade de conservação do habitat da espécie. Iniciado em 2004, o monitoramento genético dos golfinhos-rotadores de Fernando de Noronha é um dos mais longos do mundo para golfinhos, que conta com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Os estudos mais recentes evidenciam uma queda na diversidade genética dos animais. “Quando começamos nossa pesquisa, detectamos duas linhagens principais, sendo que uma delas representava cerca de 75% do total da população avaliada. Em 2019 essa linhagem já representava em torno de 95% dos animais, mostrando uma diminuição da diversidade genética e uma homogeneização da população”, disse Dra. Ana Paula. Ela ainda explicou que os resultados das pesquisas sugerem a existência de golfinhos residentes em Noronha, de uma linhagem exclusiva do local, e que animais de outras localidades também frequentam o arquipélago. “Quanto mais parecidos geneticamente, menor diversidade. Com a queda na diversidade genética, precisamos ficar mais atentos às populações de golfinhos, pois eles podem não responder positivamente às pressões ambientais, podendo apresentar doenças e/ou outros problemas”.
Segundo a bióloga, a diminuição na diversidade genética representa riscos para os golfinhos, já que quanto maior a variabilidade genética, maior é a chance de esses animais terem sucesso. “É necessária uma diferenciação genética para os indivíduos serem mantidos no ambiente”, disse Ana Paula. Ela usou como exemplo a importância da variação genética na pandemia de Covid-19. “Em relação ao coronavírus, tivemos diferentes respostas a essa doença. Se todos os humanos fossem geneticamente iguais, iríamos todos responder da mesma forma. O mesmo raciocínio vale para os golfinhos. De uma forma simplificada, aquele que tiver melhor resposta, tem maior chance permanecer na população”.
De acordo com a pesquisadora, a melhor maneira de assegurar a existência dos golfinhos é conservar o meio ambiente. “Temos de preservar a Natureza. No caso dos golfinhos-rotadores de Noronha, é preciso conservar a região do arquipélago”, destaca Ana Paula. Para ela, algumas das atitudes importantes nesse sentido seriam produzir menos lixo, evitar contaminantes na água e gerar menos estresse na área, para os golfinhos permanecerem na região e poderem se reproduzir e com o tempo talvez aumentar a variabilidade genética.
Método de Trabalho
A pesquisa é feita a partir da coleta de amostras dos golfinhos da ilha, realizada com o uso de uma esponja e um leve toque na pele do animal. “Apenas passamos a esponja no dorso dos golfinhos. A pele deles sai facilmente com o contato e fica aderida”. O processo dura poucos segundos e não causa dor aos golfinhos. Durante essa fase dos estudos, os pesquisadores coletaram em Noronha por uma semana. Nesse período, obtiveram 94 amostras, a partir das quais conseguem extrair o DNA dos animais.
“Com isso, avaliamos as semelhanças e diferenças genéticas dos animais”, disse a bióloga, acrescentando que essas amostras serão analisadas no Laboratório de Genética e Conservação da UFES. Ana Paula ainda falou sobre a importância desse trabalho ser realizado com o apoio do Projeto Golfinho Rotador. “Essa parceria é fundamental para os nossos estudos, pois nos proporciona uma excelente oportunidade de monitoramento genético ao longo do tempo. O golfinho tem uma vida longa – pode viver até 35 anos – e sua diversidade genética deve ser estudada a médio e longo prazo. Isso é essencial para entender a genética e dinâmica populacional da espécie na região”.