No início da tarde do dia 20 de abril, o Projeto Golfinho Rotador, que conta com o patrocínio da Petrobras, e várias embarcações de Fernando de Noronha avistaram um grupo de golfinhos-pintados-pantropicais (Stenella attenuata) no Mar de Dentro do Arquipélago de Fernando de Noronha, entre a praia da Cacimba do Padre e a Baía de Santo Antônio. Era um grupo de cerca de 30 golfinhos-pintados-pantropicais predominantemente adultos, com no mínimo dois juvenis.
Fernando de Noronha é um oásis no meio do Oceano, tanto em comida nas encostas submarinas do Arquipélago, como em águas protegidas dos ventos e das correntes. Esta situação propicia a avistagem de animais oceânicos, como os golfinhos-pintados-pantropicais.
Entre 1990 e junho de 2022, o Projeto Golfinho Rotador pesquisou a ocorrência de espécies de cetáceos em Noronha em mais de 10 mil dias e atendeu a 52 encalhes de cetáceos. Das dez espécies de cetáceos registradas, o golfinho-pintado-pantropical é a quinta espécie de cetáceo mais avistada em Noronha, atrás do golfinho-rotador, da baleia-jubarte, do golfinho-nariz-de-garrafa e da baleia-piloto. Sendo que este é o primeiro registro de golfinho-pintado-pantropical em Noronha durante a estação das chuvas.
O Projeto Golfinho Rotador já registrou grupos mistos de rotadores de Noronha e golfinhos-pintados nas áreas de alimentação dos golfinhos no Mar de Fora em 32 ocasiões, provavelmente com a função de proteção. Pois o rotador alimenta-se preferencialmente à noite, descansando de dia, e o pintado alimenta-se de dia, descansando à noite. Assim, enquanto uma das espécies está descansando, em baixo estado de alerta, a outra espécie, que está em estado de vigília total, encarrega-se de dar o alerta na presença de um predador.
Mesmo sendo, até 2010, a segunda espécie de cetáceo mais avistada em Noronha, os golfinhos-pintados-pantropicais só foram vistos dentro da Baía dos Golfinhos duas vezes.
Um dia em que um grupo de golfinhos-pintados passava defronte à Baía dos Golfinhos no sentido Ilha Rata, na distância de mais ou menos cinco metros por fora das boias, um único pintado contornou a boia do meio, por dentro, permanecendo cerca de 2 minutos dentro da enseada. Em outra ocasião, observamos em mergulho quatro indivíduos de golfinhos-pintados dentro da Baía dos Golfinhos, onde também estavam 341 golfinhos-rotadores. Os pintados nadavam sincronizadamente próximos uns dos outros, até que mudaram bruscamente de direção quando começaram a ser perseguidos por um grupo de 15 rotadores em comportamento agressivo. Os rotadores emitiram grasnidos e clicks de ecolocação de alta intensidade, ficaram com o corpo na postura em forma de “S”, mostraram os dentes e bateram com a extremidade do rostro na região ventral dos pintados. Diante da ameaça, os golfinhos-pintados saíram em velocidade da Baía dos Golfinhos.
A expulsão dos pintados de dentro da Baía dos Golfinhos, área de reprodução dos rotadores, pode estar relacionada à possibilidade de cruzamento entre estas duas espécies, que são muito próximas geneticamente.
Um subsídio a esta hipótese é a existência de um golfinho presumidamente é híbrido entre golfinho-rotador e o golfinho-pintado-pantropical. Este híbrido foi avistado pela primeira vez, ainda filhote, em agosto de 2000 e depois reavistado em 16 ocasiões até agosto de 2002. Este golfinho tem um nome, que deu origem a linhagem de nomes dos híbridos. Ao conferir as primeiras fotos deste golfinho quando voltava do mergulho, o então Coordenador do Projeto Golfinho Rotador, José Martins, pensou e falou: “este golfinho não existe”. A Tammy Casagrande, então gerente da loja do Projeto Golfinho Rotador, que estava perto, ouviu e sugeriu para ele o nome de Gasparzinho, o fantasminha camarada. Gasparzinho sempre foi visto ao lado de uma mesma fêmea, inclusive mamando, por isto acreditamos que ele deve ser filho de um macho de pintado com uma fêmea de rotador.
As atividades de pesquisa, educação ambiental, envolvimento comunitário e sustentabilidade do Projeto Golfinho Rotador contam com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.