Um fato recente comoveu moradores, turistas e pesquisadores de Fernando de Noronha. No dia 13 de agosto (um sábado), uma turista encontrou um golfinho encalhado entre as pedras, na Praia do Boldró. O animal chegou a ser socorrido por pesquisadores, mas não resistiu e acabou morrendo. O mamífero foi encontrado pela arquiteta mineira Luiza Miranda, por volta das 9h da manhã. Ela pediu ajuda a um funcionário da Companhia Pernambucana de Saneamento Compesa, que logo acionou o Projeto Golfinho Rotador (PGR), que tem o patrocínio da Petrobras.
A operação para tentar salvar o golfinho teve a participação também de pesquisadores do Projeto Tamar e do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio). De acordo com a coordenadora de Comunicação e Educação Ambiental do PGR, Cynthia Gerling, o animal é de uma espécie que não costuma aparecer em Fernando de Noronha. “Para nossa surpresa, não se trata de um golfinho rotador, espécie bastante comum na ilha. Esse animal é da espécie Stenella clymene, popularmente chamada de golfinho-de-clymene”, diz Cynthia.
Veterinária do ICMBio, Taysa Rocha atuou na tentativa de salvar o mamífero encalhado e fazê-lo voltar ao mar. Ela destaca que o animal mostrava sinais de desorientação, o que pode explicar o motivo do encalhe. “Esses animais têm senso de localização muito desenvolvido. Quando encalham, é sinal de que já há um problema anterior. Tentamos a introdução na água duas vezes, mas não houve sucesso”, diz a veterinária.
Após a confirmação do óbito, o corpo do animal foi encaminhado à sede do PGR, para a necropsia, conforme recomenda o protocolo da Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (Remab), da qual o PGR é representante em Noronha. A necropsia identificou que o mamífero já estava com um enfisema pulmonar. Os pesquisadores do PGR acreditam que o enfisema pode ter sido causado pelas pancadas do golfinho nas pedras. “Mas não conseguimos afirmar, com certeza, que foi essa a causa da morte”, destaca Cynthia.
Conhecendo mais sobre o golfinho-de-clymene:
É o único caso confirmado de especiação híbrida em mamíferos marinhos, sendo descendente do golfinho-rotador e do golfinho-riscado.
O golfinho-de-clymene foi formalmente descrito pela primeira vez por John Edward Gray em 1846, embora Gray só lhe atribuiu o nome atual quatro anos depois, em 1850, o que é incomum. A partir de então, até uma reavaliação em 1981, foi considerado uma subespécie do golfinho-rotador (Stenella longirostris).
Em 1981, Perrin et al. afirmou a existência do golfinho-de-clymene como espécie separada. Até aquele momento, como a espécie era relativamente remota e considerando a semelhança já relatada, não foi muito estudada. Traços anatômicos e comportamentais sugeriram que é uma espécie híbrida do golfinho rotador e do golfinho-riscado. A hipótese foi confirmada por testes de DNA, que mostraram que é de fato uma espécie híbrida.