Oceânicos, os golfinhos de Fernando de Noronha dificilmente são avistados na costa. Um grupo de cinco rotadores, no entanto, encalhou no litoral do Rio Grande do Norte na última semana de agosto e foi devolvido ao mar pela população. Em seguida, um golfinho-rotador apareceu morto. A necropsia, realizada com o apoio do Projeto Golfinho Rotador, está ajudando a esclarecer a ocorrência desse encalhe em massa.
Os golfinhos foram encontrados em 27 de agosto na Praia de Rio do Fogo. No dia seguinte, um rotador adulto apareceu morto na Praia de Gameleira, no município de Touros, ao Norte de Rio do Fogo.
Na necropsia desse golfinho, provavelmente integrante do grupo que encalhou, pesquisadores encontraram evidências de pneumonia. “Uma hipótese sustentável, já observada em outros encalhes em massa da região, é a de que os animais debilitados se aproximam da praia e os que o tomam como referência no grupo o seguem e acabam encalhando também”, informa Flávio Lima, coordenador-geral do Projeto Golfinho Rotador.
Flávio, professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, integra ainda o Projeto Cetáceos da Costa Branca (PCCB-UERN), que atua no Rio Grande do Norte e analisou as imagens e os relatos do encalhe em massa, além de realizar a necropsia.
“Os golfinhos, de modo geral, são animais de complexa dinâmica social, desenvolvendo laços específicos entre cada integrante do grupo. Esses grupos possuem líderes que em geral guiam o restante dos animais”, explica Flávio Lima.
Na avaliação do biólogo, os animais que encalharam possivelmente fazem parte da população de golfinhos-rotadores que ocupam a região oceânica entre Fernando de Noronha, Atol das Rocas, Rochedos de São Pedro e São Paulo e as montanhas submarinas que estão próximas da costa do Rio Grande do Norte.
Estudos genéticos realizados pelo Projeto Golfinho Rotador em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo apontam diferenças entre o DNA de alguns rotadores de Noronha e rotadores que vivem ao longo da costa brasileira. Em Fernando de Noronha há duas populações, uma delas com mais semelhanças genéticas com golfinhos-rotadores encontrados em outras partes do Brasil.
De acordo com os dados levantados, é provável que o grupo de golfinhos-rotadores de Noronha seja geneticamente mais distante dos rotadores encontrados ao longo da costa brasileira, constituindo assim uma população residente de Fernando de Noronha, que se reproduza entre si e não com as demais populações de rotadores do Brasil.
A ocorrência do Rio Grande do Norte será registrada pelo PCCB na Rede de Encalhe e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB), da qual fazem parte o Projeto Cetáceos da Costa Branca e o Projeto Golfinho Rotador (PGR), sendo inclusive o PGR um dos fundadores da REMAB.
Criada em 2011, a REMAB viabiliza o intercâmbio de informações entre as instituições que trabalham com mamíferos aquáticos no Brasil por meio do armazenamento, em banco de dados nacional, das informações obtidas através de pesquisa, monitoramento e atendimento de encalhes e capturas em artes de pesca.
O trabalho junto à REMAB, assim como atividades na área de educação ambiental, pesquisa e monitoramento de golfinhos-rotadores, além de ações nas áreas de envolvimento comunitário e sustentabilidade realizados desde 1990 pelo Projeto Golfinho Rotador, têm patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.